DISCIPLINA POSITIVA: A ESCOLA NOVO ESPAÇO ACREDITA NESTA IDEIA
No dia 25 de maio tivemos o prazer de receber a Fabiana Neves em nossa instituição. O foco foi a melhoria da performance na comunicação dos nossos educadores com as crianças, uma relação que deve ser baseada no respeito e na empatia. Para os pais e responsáveis, o assunto também é de grande relevância e sendo assim, queremos compartilhar com as famílias.
Se você se interessou pelo tema, confira a entrevista completa realizada com a Fabiana Neves.
- O QUE SIGNIFICA DISCIPLINA POSITIVA?
Fabiana: Em poucas palavras, Disciplina Positiva significa rompimento do paradigma permissivo/ autoritário na educação das crianças e adolescentes. Há outra forma de educar que não utiliza castigos, recompensas ou punições (físicas ou emocionais), que tem foco no desenvolvimento de habilidades de vida e na construção de relacionamentos baseados em respeito mútuo, na abordagem firme e gentil da criança e na conexão com o outro antes da correção de comportamentos. Essa forma de educar nós chamamos de Disciplina Positiva.
- EM QUAIS PRINCÍPIOS SE BASEIA A DISCIPLINA POSITIVA?
Fabiana: A Disciplina Positiva está baseada nos princípios da teoria de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs, dois psicólogos vienenses do início do século XX que compreenderam que uma criança, para ser disciplinada, precisa ser tratada com igualdade – e Adler explicava que igualdade não significa “o mesmo”, antes significa que as crianças tem igual direito à dignidade e ao respeito. A terapeuta americana, Jane Nelsen, mãe de 7 filhos, é a responsável por desenvolver a Disciplina Positiva com base nos princípios adlerianos e, juntamente com outros autores que se juntaram a ela, fazer com que essa abordagem esteja presente hoje em mais de 60 países.
Outros conceitos adlerianos que embasam a Disciplina Positiva são:
- O objetivo primário de uma criança é se sentir aceita e pertencente e as crianças são seres sociais: o comportamento delas é determinado dentro de um contexto social, da qual elas precisam se sentir parte contribuinte e importante. Quando as crianças perdem esse senso de pertencimento e aceitação, elas tendem a tentar recuperá-lo. Damos o nome de mau comportamento a todas as formas equivocadas como as crianças e os adolescentes realizam essa busca.
- Uma criança que se comporta mal, portanto, é uma criança desencorajada do seu senso de aceitação e importância.
- Erros são oportunidades de aprendizagem – esse conceito é essencial e particularmente desafiador para uma sociedade como a nossa que enxerga o erro como uma falha grave, levando mesmo a confundir-se o fato de uma pessoa cometer um erro com a pessoa sentir-se um erro (inadequada). Segundo a própria Dra. Jane, precisamos encorajar as crianças a tentarem e, ao cometerem um erro, celebrarem isso como oportunidade de aprender. Como nós dedicamos pouco tempo a encorajar as crianças, acabamos por perder a oportunidade de ensiná-las o valor dos erros.
- COMO SURGIU EM SUA VIDA A DISCIPLINA POSITIVA?
Fabiana: A Disciplina Positiva surgiu na minha vida no momento em que eu estava sendo a mãe que eu não queria ser. Eu queria uma outra forma de educar meus filhos e não sabia, me faltavam conhecimento e ferramentas práticas para ganhar essa habilidade. Comecei um blog sobre educação e cheguei até a Disciplina Positiva através de uma autora que citava a abordagem de Jane Nelsen. No capítulo que li, ela ensinava exatamente a como devemos agir quando cometemos um erro. Fiz os passos que estavam descritos. Funcionou! Procurei saber mais sobre o assunto e cheguei até a Associação Americana de Disciplina Positiva. Vi que poderia me certificar para ser educadora de pais e meu interesse imediato era me educar para ser uma mãe melhor. Depois da primeira certificação, e à medida que praticava os princípios em casa utilizando as ferramentas que aprendia, ganhei a certeza de que esse caminho era para mim. Aos poucos, a Disciplina Positiva ganhou um espaço cada vez maior e hoje trabalho exclusivamente para levar essa abordagem aos pais e professores de Juiz de Fora, região e onde mais me chamarem!
- DE QUE FORMA A DISCIPLINA POSITIVA PODE CONTRIBUIR NAS ESCOLAS, PRINCIPALMENTE DE EDUCAÇÃO INFANTIL?
Fabiana: A neurociência vem comprovando o que Adler dizia desde o século passado: as crianças precisam de respeito e igualdade para aprender e disciplina significa “aquele que segue o mestre”. Não tem nada a ver com obediência, ou com fazer o que o adulto manda sem oportunidade de expressar seu poder pessoal de forma positiva. A sociedade mudou e as crianças não têm mais os mesmos modelos de submissão para seguir. Como elas aprendem muito mais com o que veem a gente fazer do que com o que a gente fala, nós também precisamos construir um modelo de respeito mútuo nas relações com elas se quisermos conquistar sua colaboração. O que ainda acontece na educação infantil é a utilização das mesmas ferramentas punitivas ou de recompensa na esperança de que as crianças vão, a longo prazo, responder positivamente ao uso contínuo dessa abordagem. O que acontece de fato, no entanto, é que as crianças começam a se rebelar (ou ficam com medo ou começam a mentir para escapar) diante da punição ou param de fazer o que é esperado se a recompensa não interessa mais. Cantinho do pensamento e quadro de recompensas (de estrelas ou sorrisos) são estratégias que podem funcionar em curto prazo porque interrompem o comportamento por um tempo. Mas o que elas constroem em longo prazo? A Disciplina Positiva foca em enxergar o mau comportamento como a estratégia de uma criança desencorajada para encontrar seu senso de pertencimento, portanto as mais de 50 ferramentas que a abordagem ensina estão baseadas em princípios que são eficazes em longo prazo. O objetivo é construir habilidades de vida – como foco em solução, autorregulação emocional, responsabilidade social, percepção “eu sou capaz”, capacidade de perceber que tem poder de influenciar a própria vida, entre outras – e contribuir para a criação de cidadãos responsáveis e participantes das suas comunidades. Ao levar a Disciplina Positiva para as escolas, principalmente para a primeira infância, esperamos oferecer às professoras novas estratégias para lidar com o comportamento das crianças que ainda não chegaram ao ensino formal da pedagogia. E esperamos que, um dia, a Disciplina Positiva esteja em pé de igualdade com as demais linhas da educação ensinadas nas faculdades e cursos de pós-graduação.
- QUAIS OS ASPECTOS MAIS RELEVANTES DA DISCIPLINA POSITIVA NAS FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS?
Fabiana: As famílias vivem um momento particularmente desafiador: a ausência da família extensa como rede de apoio, o excesso de trabalho, a escassez de tempo e espaço para oferecer à criança as oportunidades que ela precisa para o seu aprendizado não acadêmico. Tudo isso somado à pressão e ao estresse tem levado pais, mães e crianças ao sofrimento. De um lado, pais cansados, sem paciência e sem habilidades para educar sem punir ou sem serem permissivos. De outro, crianças sobrecarregadas, cansadas e necessitadas de exercerem seu poder pessoal de forma positiva. Em outros momentos, o excesso de informação sobre criação de filhos – o que se deve fazer para criar filhos saudáveis, que dormem bem, que comem de tudo, que são educados, que não fazem birra como as crianças francesas, e sobre não sei mais o que se deseja – leva pais e mães a tentarem um sem número de coisas no esforço de serem bons pais e darem o melhor que tem para os filhos. Não quero dizer com isso que a gente não deva se informar e estudar para sermos pais e mães – sou a primeira a defender essa ideia. A questão é o excesso. O que eu vejo que a Disciplina Positiva tem a acrescentar está justamente na simplicidade dos seus princípios e na variedade de ferramentas baseadas nesses princípios que podemos usar para educar os filhos. Quando estamos em um curso ou workshop, procuramos capacitar os pais para desenvolverem as próprias soluções à medida que apreendem os princípios. Isso é muito libertador e é um alívio, porque somos libertados do peso de sermos pais perfeitos e começamos a abraçar nossa humanidade. Somos convidados a usar nossos erros como oportunidade de modelar para nossos filhos que errar é parte do aprendizado e que sempre é possível fazer alguma coisa a respeito em outra oportunidade. Livres do desejo de perfeição, nossos filhos também se sentem encorajados a serem autênticos, a errarem e fazer o melhor possível para consertar e seguir em frente, aprendendo a solucionar seus problemas e a ajudar o próximo usando habilidades de comunicação, empatia, cooperação, escuta ativa e troca.
- COMO VOCÊ PERCEBE ESTE MOVIMENTO DA ESCOLA INFANTIL NOVO ESPACO DE PROPORCIONAR MOMENTOS DE ESTUDO COMO ESTE PARA TODOS SEUS PROFISSIONAIS?
Fabiana: É maravilhoso levar a Disciplina Positiva para uma equipe já tão integrada e que está na prática de uma educação que coloca a criança em primeiro lugar. A Novo Espaço está em sintonia com as abordagens mais atuais de educação infantil e a Disciplina Positiva tem seu espaço. No nosso encontro, foi possível observar o quanto a equipe saiu encorajada e animada com o que aprendeu. Isso faz toda a diferença. Como uma das pioneiras em trazer a Disciplina Positiva para o dia a dia da escola, sei que temos um caminho bastante rico de trabalho e oportunidade de aprendizagem e de cooperação para construirmos a educação que queremos ver no futuro.
FABIANA NEVES é Trainer Candidate e Educadora em Disciplina Positiva para Pais, Professores, Primeira Infância e Relacionamentos habilitada pela Positive Discipline Association (Califórnia, EUA), Comunicadora Social, Orientadora Parental. Filiada a Positive Discipline Association. Membro fundadora e do Conselho da Associação Brasileira de Disciplina Positiva. Criadora do Mater Sapiens, centro de Instrução e Prática em Disciplina Positiva.